MÁRCIO MILO (30.06.1939 - 12.06.2010) E OUTRAS REMINISCÊNCIAS...
Eu o chamava de MM. Duplo M... Marilyn Monroe... Esta lhe escapou.Outras Marilyns foram por ele seduzidas neste imenso norte de Minas e alhures. Finalmente, encontrou o verdadeiro amor, casou-se e aquietou-se.Conheci MM na Radioluz, loja de eletrodomésticos que ele compartilhava com os irmãos Gera Renan e José Eustáquio, o Pindoba. Ali eu adquiria meus Lps de Elvis, Ray Charles e Sinatra. Depois vieram Beatles, Stones, Led, e meu gosto musical se ampliou.
Certa ocasião, ali na loja, comprei dele um bilhete e ganhei a rifa de um relógio Mido com não sei quantos rubis...Sempre o via na Crystal, óculos de sol, com os eternos companheiros Mimi, Agnaldo, Edvar Róró e Waldir Aguiar. Inseparáveis.
Quem se dispuser a consultar as colunas sociais dos anos 60 e início dos 70 verá o quinteto citado aqui e ali. Estavam em todas.
Após a happy-hour na Crystal ou em algum outro bar do centro, iam para casa, se banhavam, se perfumavam (infelizmente o perfume então em moda era o repelente Lancaster, argentino...) e saíam para namorar. Logo mais voltavam a se encontrar na Crystal - espécie de quartel-general -, de onde partiam para algum dos cabarés, que à época não eram poucos.Eu, meninote ainda, os invejava. Vestiam-se bem, no Camiseiro (ah, as camisas Volta ao Mundo...) ou na Renner, possuíam lambretas e vespas e namoravam as garotas mais bonitas da cidade. "Meu tempo ainda há de chegar", pensava e me conformava.
Chegou antes do que eu imaginava. Nos chamados anos dourados, meninos de 14/15 anos fumavam, bebiam, jogavam baralho, sinuca e porrinha e não poucos frequentavam o baixo meretrício. Foi por assiduidade a tais "antros de perdição", no dizer de padre Dudu, que um dos nossos ganhou o apelido que ainda hoje o acompanha: Jim Bordel. De certa feita nosso herói, o Jim (Conto ou não? Conto!), simplesmente mudou-se de mala e cuia para um dos quartos do palácio da célebre Roxa. Apaixonara-se por uma felina de seus 18 anos. Seu pai, o saudoso Ney, abordou a garota e lhe pediu, diplomaticamente, que deixasse o filho. Diante da negativa, ofereceu-lhe então um cheque em branco, dizendo: "Preencha-o com o valor desejado e abandone a cidade em 24 horas!" Como resposta, recebeu na cara o cheque rasgado em tiras. É mole?Voltando a Márcio, este era o que se chamava boa praça. Amigo de todos, leal, de fino trato e dono de um humor contagiante. Às vezes enervava-se, porém coisa passageira. Incentivou como poucos o esporte local, sobretudo o futebol de salão, fundou e dirigiu clubes sociais (quem não se lembra do volante Gardênia?). As horas-dançantes, sem ele e o quarteto que o acompanhava, perdiam a graça, segundo testemunhas de então.
Como sói acontecer, Márcio tinha um sério rival, o não menos simpático e bonito Felisberto Oliveira, um gentleman. Viviam no empate/desempate no que se refere à pegação de garotas. Tratando-se de vedetes nacionais, a exemplo de Eliana Pitman e outras de igual calibre, ponto para Felisberto (ele as contratava no Rio de Janeiro, para shows do clube Montes Claros, este presidido por seu pai, o grande jornalista Jair Oliveira - dono da maior parte da mídia local: Gazeta do Norte e ZYD7, emissora de rádio). Félix - assim eu o chamava - chegou a ficar com a vetusta Virgínia Lane! Márcio Milo, por seu turno, não perdia o élan: desempatava a eterna partida através da conquista de alguma miss ou glamour-girl. Faturou mais de seis!Fiquei mais próximo de Márcio quando seu irmão Ricardo e eu, colegas de classe no marista São José, nos descobrimos como fãs dos Beatles e decidimos formar um conjunto musical.
Como faltavam dois componentes, iniciamos como dupla, a exemplo da inglesa Peter and Gordon. Márcio nos incentivava e conseguia que tocássemos nos intervalos do conjunto de baile Les Chèris nas horas-dançantes matinais (das 10 às 14h), aos domingos, da boate da
Praça de Esportes. Quem era quem, no dizer de Lazinho Pimenta, ali comparecia. O cuba-libre e o hi-fi rolavam soltos às 10 da manhã! Uma coisa, Arthur!
Ficávamos apenas na coca ou no crush, Ricardo e eu.
Coisa de um ano ou menos já tínhamos o conjunto montado, com o acréscimo de Lelas (João Batista Macedo) e Patão (Hélio Guedes).
Beto viria depois, com a saída de Lelas. Nascia aí os Brucutus, que,juntamente a mais 35 bandas de rock (então chamadas conjuntos), viriam sacudir as estruturas da velha Moc. Havia até mesmo um conjunto feminino, o Wood Face Girls (Garotas Cara de Pau, porque rock and roll era coisa para meninos...), formado por Hilda Nascimento (bateria), Nair Maurício e Lucinha Teixeira (guitarras) e Celeste Priquitim (baixo).Márcio logo nos conseguiu um empresário, seu dileto amigo Waldir Baiano, merecedor de um livro a seu respeito. Era o que nos faltava, pois era o mais louco de todos nós. De uma tacada adquiriu todo o equipamento necessário ao conjunto: bateria, guitarras, baixo, amplificadores de som, caixas de voz, microfones... Patão e eu acompanhamos a compra da "aparelhagem" na Mesbla, em BH. Dez prestações, pagas religiosamente. Dona Lourdes (tia de Márcio) avalizara - temerosamente - a transação...Márcio continou incentivando a música.
Logo vieram Rafa Milo (filho de Ricardo e Rita), Marcelo (filho do próprio Márcio), Leo Lopes (seu genro), Maurício Teixeira, Henrique Tourinho (Buts), Ian e Gabriel Guedes. E ele, Márcio, sempre torcendo por todos. Nos últimos anos, aposentado, dividia suas muitas histórias com a turma do café Galo, defronte à sua velha e amada Crystal.
Ficam aqui, MM, o nosso agradecimento e a nossa eterna saudade. We`ll meet again* Valeu, MM! Vlw memo, flw, te+!*We`ll meet again (Encontrar-nos-emos novamente) é uma canção interpretada pela banda folk americana The Byrds (selo CBS, 1965).P.S.: Li esta crônica para Ricardo Milo antes de publicá-la. Ele comentou: "`É isso aí, Cabs." E acrescentou: "Quando Márcio saía de casa com aquele seu terno preto brilhante, camisa imaculadamente branca e gravata vinho com o nó irretocável, balançando a cabeleira loura, eu pensava: alguém vai sucumbir...